Homens mais solitários do que nunca e como sair disso

Tanto no meu círculo de amigos quanto com meus clientes percebo como os homens tem tido uma fome constante por conexão, sobretudo com outros homens.

Leia mais: Homens mais solitários do que nunca e como sair disso

Eles em geral tem uma rede de apoio pequena. Tem poucos amigos e menos ainda oportunidades de fazerem conexões reais e íntimas. Não tem pessoas com quem contar quando as coisas estão difíceis ou quando sentem-se mal com solidão, tristeza ou cansaço emocional.

Isso parece contraintuitivo já que vivemos em um mundo digital e altamente conectado. Mesmo assim, nunca estivemos tão sozinhos. Os homens tem se sentido cada vez mais só e tendo cada vez menos amigos. No Brasil, a solidão é a realidade de 1 em cada 4 homens de até 24 anos. O que está fazendo com que esses homens não tenham relacionamentos satisfatórios?

A cultura masculina do ocidente se pauta em uma visão pouco realista sobre o indivíduo. O Instituto Papo de Homem descobriu através de uma pesquisa a “caixa do homem“. É uma caixa simbólica que contém tudo que o homem deve ser, fazer, falar ou sentir. Na pesquisa, encontraram o quanto os homens concordam terem sido ensinados em cada uma das crenças a seguir:

  • Ser bem sucedido profissionalmente. (85%)
  • Não se comportar de modos que pareçam femininos. (78%)
  • Ser fisicamente forte. (73%)
  • Ser o responsável pelo sustento financeiro da família. (67%)
  • Não expressar minhas emoções. (57%)
  • Dar em cima das mulheres sempre que possível. (48%)

O que acontece quando eles não conseguem exercer o que foram ensinados a crer que precisa ser feito?

Autenticidade, intimidade, autonomia, criatividade

Além da caixa do homem, existe uma falta profunda de permissão para ser autêntico e para demonstrar a complexidade de do mundo interno pessoal. Isso está impregnado tanto em si mesmo quanto no que é considerado ser homem na sociedade. Afinal, que tipo de homem é mais famosamente retratado nas mídias, filmes, jornais e redes sociais? O complexo ou o simples? O profundo ou o raso? O forte ou o triste?

A falta de permissão faz com que os homens se fechem emocionalmente bloqueando suas emoções mesmo que expressá-las seja imprescindível para uma vida satisfatória. 6 em cada 10 homens concordam que foram ensinados desde a infância a NÃO expressarem suas emoções e somente 2 a cada 10 homens dizem ter tido exemplos práticos de como lidar com as suas emoções.

Vulnerabilidade

A vulnerabilidade emprega um papel crucial nessa dinâmica. A caixa do homem na verdade tem um único objetivo: garantir que o indivíduo não demonstre vulnerabilidades. No passado, isso talvez tenha sido útil já que vivíamos em outras épocas com outras demandas e ameaças. Demonstrar aspectos vulneráveis de si mesmo era abrir espaço para ser derrubado permitindo ataques em áreas mais frágeis. Sobreviver então significava manter-se invulnerável.

Vulnerabilidade vem do latin vulnerare, o que significa “ferir”. A vulnerabilidade cria a possibilidade de ser ferido, ou seja, uma experiência emocional que expõe partes que podem ser machucadas. Essa exposição pode gerar desde incômodo a luta, fuga ou até mesmo anestesiamento dependendo do padrão de crenças envolvido. Por outro lado, só é possível realizar uma verdadeira conexão quando há vulnerabilidade. Como resolver esse aparente paradoxo?

O que homens podem fazer?

A necessidade de conexão e pertencimento não é negociável. É uma fome real, psico e fisicamente falando. Portanto, existem alguns comportamentos que podem ser feitos para conseguir solucionar o dilema do ouriço:

  1. Identifique pessoas com quem você ganhou alguma confiança. Pequena ou não, faça uma lista. Relacionamentos saudáveis não são feitos com qualquer um. Não se preocupe com o tamanho.
  2. Busque ter momentos de conexão. Tente conectar-se conscientemente com as pessoas acima. Mostre que está interessado ligando, combinando algo juntos como um café ou uma cerveja.
  3. Arrisque-se emocionalmente. Assuma riscos um pouco mais que o normal. Não ligue para noções de certo ou errado quando fizer isso. A importância está na troca sincera e aberta.
  4. Dê passos pequenos, mas firmes. Faça uma coisa por vez. A inexperiência pode fazer com que a ansiedade por resultados atrapalhe o processo.
  5. Mantenha-se presente. Dê espaço para si e para o outro prestando atenção ao agora. Use seu corpo como antena e ajuste as ações e falas de acordo com ele. Se precisar falar ou ouvir algo difícil, faça-o respeitando os envolvidos, com a velocidade e intensidade que conseguir, nem mais, nem menos. Assim o sucesso, mesmo que pequeno, será motivo para comemoração e continuidade.
  6. Respire durante as ressacas sociais. Quem nunca correu não pode começar a se exercitar com uma maratona. Isso é análogo às trocas íntimas. Pode ser necessário despender uma quantidade de atenção e controle maior do que o normal. Se isso acontecer, cuide-se no “depois”.

Faz sentido?

Se você tem alguma dúvida sobre o assunto, deseja falar um oi ou marcar uma sessão experimental de terapia sistêmica, acesse abaixo.


Postado em

em

,